30.7.14

As Velas

Aqueles desejos nunca foram realizados,
embora houvesse tantas luzes
anunciando a chegada da maioridade
como se fosse algo para celebrar
dentro de um corpo cheio de tristezas.

Não espere por mim!
Corte seu coração ao meio
e em seguida, rasgue sua alma.
E saberei se você está pronto
para quebrar estas correntes.

Tantas promessas, tão pouco tempo;
esse pensamento me persegue
assim como persigo os anos desperdiçados
com uma juventude baseada em desejos.
Ó tantas celebrações, tão pouco tempo.

Espere outro ano!
Olhe para estas dezessete velas
e em seguida, espere pela última.
E saberei se você está pronto
para esperar até o mês de junho.

Se envelhecer significa esquecer minha inocência,
então envelheço dia após dia, sem vontade de recuperar
tudo que perdi depois que as chamas foram apagadas.
Chamas que celebram a ausência da liberdade,
liberdade que morre quando não há juventude.

Apenas espere até envelhecer!
Até que não haja solução,
até que não haja problema,
E perguntarei se você está pronto
para soprar as velas.

– por J. C. Gonçalves

26.7.14

Esperançoso

Homens matam uns aos outros lá fora
enquanto lamentamos seus motivos,
porém somos como eles,
estamos fadados a matar também…
assim, não estaremos vivos ao amanhecer.

e as palavras são perigosas,
e os gritos não nos pertencem,
e as almas apenas evaporam.

Ó criança, você mudará este mundo,
mas não te ajudarei
porque não acredito em nós…
apenas não tenho fé em nós,
apenas estou fadado a me acostumar.

e nossos corações são de pedra,
e nossos olhos não choram,
e nossas bocas são túmulos.

Às vezes temos medo de viver
por causa daquelas feridas abertas,
mas quando você segura minha mão
e sorri despreocupadamente,
sei que valeu a pena crescer.

e vale a pena viver para morrer,
e vale a pena planejar algum futuro,
e vale a pena ser criança.

– por J. C. Gonçalves

17.7.14

Costumávamos Existir

I

Toda palavra tem um significado
capaz de trazer à tona
o que é sentido e escondido,

mas todas as palavras se tornaram inúteis
e nós nos tornamos frágeis e amargos,
assim como este mundo.

II

Todo sentimento tem de ser revelado
à medida que o tempo se extingue
e o coração para de palpitar,

mas todos os sentimentos foram oprimidos
e nós fomos acorrentados ao mundo
que é criado e destruído por nós.

III

Nenhuma lembrança durará até amanhã,
porque nós mudamos muito ontem
e agora nem lembramos nossos nomes,

mas nenhuma lembrança dura,
pois aprendemos a nos esquecer
de tudo e de todos.

IV

Nenhum nome será gritado
quando algo acontecer conosco,
porque nunca nos conhecemos,

mas nenhum nome é gritado
como o nome daquele que nos permite gritar
(e alguns ainda acreditam nos homens).

V

Toda vida se esvai
quando a vemos como algo proibido,
algo acostumado a acabar.

Nenhuma existência durará...
sei disso porque eu costumava existir
e, como humano, você também.

– por J. C. Gonçalves

14.7.14

Um Homem sem Mudanças

Vejo o homem ganancioso
cujo único filho provém
de um desejo curioso
por dinheiro que ele já tem.

Ouço o discurso do homem crente:
se não há nada na mente,
então estaremos seguros
atrás dos dourados muros.

Toco o homem cruel
cujo rosto jovem
escurece nosso céu.

Reconheço este homem vulgar
quando percebo este espelho
refletindo o que devemos lembrar.

– por J. C. Gonçalves

10.7.14

Inverno

No norte, a chuva é branca,
o chão é coberto de nuvens,
o vento rasga a pele e
o frio invade o corpo.

No sul, a chuva é apenas chuva,
o chão é coberto de poeira,
o vento sopra como uma brisa e
o frio beija o corpo sem aviso.

No norte, os homens vestem ternos pretos;
eles caminham sobre o cimento seco,
eles tem um futuro desde o berço e
eles são apenas homens...

No sul, os homens vestem ternos;
eles caminham sobre o cimento fresco,
eles tem um futuro quando sonham e
eles também são apenas homens...

Em todo o mundo, as estações são diferentes,
os pequenos e grandes sentimentos são diferentes...
Até os homens são diferentes! porém, presentes,
o que torna o tempo a nossa única distância.

– por J. C. Gonçalves

5.7.14

Algum Coração

Sim, meu caro, eu posso ser feliz.
Não, meu caro, tuas palavras não me assustam.
Sim, meu caro, há um órgão de verdade.
Não, meu caro, não é metálico como o teu.

Se o coração pertence a mim,
ele amará quem eu quiser,
porque eu escolho por quem
eu me apaixono.

Se o coração não é teu,
não tente mudar o meu,
porque eu escolho a maneira
como eu amarei os outros.

Os sentimentos são infinitos,
bem como a busca por eles,
mas eu não sou infinito,
tampouco sou paciente.

Sou mortal, feito de carne;
carne que apodrece.
Sou propenso ao esquecimento e,
portanto, minha busca morre comigo.

 – por J. C. Gonçalves

O Farol

A Daniel Nunes

Antes de acender meu coração,
eu costumava andar no escuro.

Aprendi a amar,
mas não verdadeiramente.
Ensinaram-me a tolerar,
mas não totalmente.
Comecei a calar,
mas não eternamente.

Ele tem olhos misteriosos
e eu não posso desvendá-los.
Ele tem lábios carnudos
e eu não posso beijá-los.

Alguém me disse
para não esconder meu farol.
E longe do universo,
aprendi a ser verdadeiro.
Alguém me ensinou
a suportar as dores,
mas não os amores.

Depois de acender meu coração,
comecei a procurar por sentimentos.

– por J. C. Gonçalves