28.4.14

Pesadelo

Tão humano quanto você.
Tão real quanto você.
Só não tão feliz quanto você,
por causa de você...

Ó, tu e tua maldita crença!
Ó, tu e teu enorme cinismo!
Ó, tu e tua mente pequena!

Nenhuma forma de amor é errada;
errado é teu preconceito, meu amigo.
Porque por dentro somos assim:
sem diferenças enfim.

Ó, vá, Pedro, vá dizê-lo!
Ó, vá, Lúcio, vá possuí-lo!
Ó, vá, Renato, vá amá-lo!

Não vejo para que tanta preocupação:
o coração pertence a ele, e a ele somente.
Tua hostilidade me preocupa
e tuas palavras me assustam.

Ó, entenda-o como um amigo teu!
Ó, aceite-o como um irmão teu!
Ó, ame-o como um filho teu!

Eles estiveram vivendo um pesadelo.
Eles sempre estão vivendo um pesadelo.
É sempre um pesadelo em suas mentes.
Poderá este pesadelo acabar?

Ó, Pedro, não se vá; pois amar não é fatal!
Ó, Lúcio, não se esconda; pois tu não és um animal!
Ó, Renato, não se amargure; pois errado é não ser sentimental!

– por J. C. Gonçalves

21.4.14

Oceano de Remorso

Todos mentem como eu minto.
Todos sentem o que eu sinto.
Mas ninguém vê o que eu vejo.

Nasci tão seguro
de que nada mudaria meu futuro
ao ponto de desistir desse desejo.

Nasci alguém poético,
e por ser assim sintético,
não pude rimar em um lampejo.

Chorei em um oceano
todo o remorso de um ano.
E agora, de tédio bocejo.

Nasci no mar,
porém, dele nunca fiz meu lar.
Preferi viver em qualquer lugarejo.

Nasci assim,
sem medo de chegar ao fim;
triste mesmo quando eu arquejo.

Minhas frases são de bem,
pois não mais me têm.
Ó perdi até o pejo!

por J. C. Gonçalves

17.4.14

Depois de Esperar

... Ele não quis esperar.
Ele apenas não pôde esperar…

I

Ó, como é o outro lado?
É real? É celestial?
Desculpe-me, mas ainda tenho
tantas dúvidas.

Eles dizem muito sobre aí.
Eles dizem que só os bons vão aí,
mas, se é para todos,
por que ainda não estou aí?

II

Ó, acenda uma luz
e me encontre na escuridão.
Quero ser encontrado.
Quero que você me encontre.

Meu corpo apodrece
a sete palmos dos seus pés
e minha alma se esvai
a cada demora sua.

III

Eles dizem que foi pecado,
e por isso, você não está lá
Desculpe-me, não posso te encontrar,
pois ainda tenho medo deles.

Eternidade é tão desejada
que até me esqueço
do que é viver.
Viver para morrer e nada mais

IV

Ó, também tenho medo;
medo da solidão que me habita,
medo do vazio e
medo da falta de vida.

Se eu tivesse esperado,
estaríamos juntos agora.
Porque depois de esperar,
apenas navegamos através da outra vida.

V

Ó, não há eternidade,
descanso ou liberdade.
É apenas outro lugar
em nossas mentes.

Não pude esperar.
Morri por ti
e mesmo assim
não pude te encontrar.

– por J. C. Gonçalves

12.4.14

Na Estrada

Do alto do penhasco
vi teu corpo beijar
o chão com o asco
de quem despreza o ar.

Felizmente
eu estava em um sonho,
recordando-me de quem acompanho
e impedindo-o de ir mesmo que ele tente.

Às vezes era a solidão
seu desejo mais vão;
lamentando-se por viver,
mas sendo incapaz de morrer.

Ó terrível fim!
Na estrada te encontrei,
morto com tudo que te ensinei.
E tua dor me fez viver até por mim.

Ele encontrou uma solução melhor.
Ele não quis mudar.
Ele amenizou sua dor,
mas ele não quis esperar…

– por J. C. Gonçalves