23.3.14

Quase sem Esperança

Isto nunca foi um prazer,
tampouco esteve perdido.
Fato é o que deve ser,
embora já tenha sido.

Tínhamos algo efêmero,
que em breve sumiria
como toda essa euforia,
trazendo tristezas em esmero.

Nenhum de nós tem
chances de escapar,
mas faz tão bem
apenas imaginar.

Sem palavras estou
quando vejo o que você amou.
Sem esperanças existo
quando não há nada além disto.

– por J. C. Gonçalves

17.3.14

Flores Infelizes

I

A ausência do ar
afeta os pulmões,
que deixa de inflar
e mata o sujeito de ilusões.

A ausência o amor,
que não é tão fatal,
imortaliza o não emocional
e pondera se no céu o deve pôr.

Há uma saudade
tão murcha quanto às flores
e tão velha quanto à felicidade.

Há cores
que juntas pintam minha cidade
de elogios e dores.

II

Há um novo efeito:
arrepiante como o medo,
frágil desde cedo
e triste quando desfeito.

Há um novo agora
que chega à mente
e nela explora
tudo o que se sente.

A ausência de nós
infelicita o infeliz
quando não há prós.

A ausência do que fiz,
feita a sós,
inutiliza o que das flores se diz.

– por J. C. Gonçalves

O Desejo

Às vezes eu queria crescer
com a mesma rapidez usada
para se apaixonar em segredo
…esquecer não seria um problema,
ao contrário, seria uma solução.

Tão morto vivi o passado,
escondendo-me em sonhos;
e ainda morto viverei o futuro,
sofrendo em pesadelos.

A vida que sempre desejei
nunca foi a mesma
desde o dia em que
eu a obtive justamente.

E o amor nunca foi o mesmo
desde o dia em que ele caiu
dentro do maior infinito:
o arrependimento.

É uma ferida aberta,
causada pelo antigo anseio
de querer viver
sem ao menos fazê-lo.

Ó, era apenas um desejo,
que como outros,
morreu quando enfim
foi realizado pelo tempo.

Não temos culpa
se da vida obtemos
tanta ilusão;
vindo desde a infância
e chegando à velhice.

Não temos culpa
se os dias atuais
nos fazem desejar
cada vez mais
algo melhor,
fictício e
amenizador.

– por J. C. Gonçalves