18.12.13

Comece a Acordar

A rebelião foi longe demais;
machucou-nos cruelmente
sem razões verídicas.
Ó, e onde está você, Cecília?

Apenas acorde, apenas silencie
enquanto fugimos para longe,
porque finalmente é a nossa chance.
Ó, e onde está você, Cecília?

Quando tudo está ruindo
temos que recomeçar,
… existindo.

Quando tudo está mudando
temos que recomeçar,
… acordando.

– por J. C. Gonçalves

Morte do Coração

I / Paixão

Sequer conheci alguém
por quem poderia me apaixonar
– desamparado, era o que eu dizia,
querendo enganar o órgão.

Louco é o coração do forasteiro
por quem deixo me apaixonar,
mesmo que eu já tenha nascido
de coração falecido…
– sossegada, era o que ela dizia,
querendo não me iludir.

Oco é o coração da moça
que fingiu amar, sem estar amando
– convencido, era o que eu dizia,
querendo esquecê-la.

Sequer te conheci em sentimento,
pois na vida, temos que sair e buscar
o melhor de cada dia
que preencha o vazio de nossos corações,
do contrário, morreremos infelizes.
– fascinada, era o que ela dizia.

II / Ponderação

Faleci junto àquilo
que as pessoas mais prezam,
e aos poucos percebo o quanto
irrelevante foi o meu desespero.

Gratidão é talvez o que eu devesse sentir…
apesar de haver um sentimento maior.

III / Promissão

Caminharei por ruas solitárias,
tentando esquecer o que eu senti
enquanto espero o infinito do meu coração
acabar e mudar para melhor.

– por J. C. Gonçalves

17.12.13

Amargura

Houve um dia
em que escolhi
morrer sozinho.
Sem histórias
para contar
ou paixões
para recordar.

Mas aí lembrei
que como homem
não vivi nada digno.
Agora pergunto eu:
por que morrer?

Cobraram-me tanto
do pouco que eu tinha,
que fui forçado a vender
minha própria felicidade
a fim de obter paz.

Houve outro dia
em que preferi
me tornar um fugitivo
a viver amargurado.
Eu seria perseguido,
porém, eu estaria feliz
junto à minha alma.

É notório
que o sorriso medíocre
de um homem qualquer
não pode ser substituído
por toda a riqueza deste mundo.

A menos que seja beleza natural,
não vale a pena apreciar
as cores da ascensão.

Mas houve um terceiro dia
em que me rendi
ao amargo do futuro…
sem questionar o porquê.

– por J. C. Gonçalves

4.12.13

Fingindo Ser Humano

Já não sei o que ser perto de mim,
pois já gastei todo meu tempo
tentando sobreviver
à voracidade social.

Mesmo com o chão ensanguentado
todos continuam a caminhar.
A morte de outro homem
não é nada comparada
à falta de tempo.

Tamanha é a dor
que fingimos suportar,
para não sermos esquecidos.
Tamanha é a felicidade
que fingimos possuir,
para sermos lembrados.

… pois bem, calo-me
diante da beleza
de minhas terras…

Já não sei ser quem sou,
pois há muito hipnotizei-me
pelo exterior deste mundo
– e tal é a vivacidade dele.

Embora haja tanto
a se contemplar
silenciosamente,
não consigo parar
de pensar em nós.

Por mais que as suntuosas flores
sejam coisas com que sonhar,
não deveríamos nos perdoar
tão naturalmente,
ainda mais com
tantas feridas abertas.

É um silêncio no vácuo…

– por J. C. Gonçalves

3.12.13

Moinho de Vento

A palavra é o que basta
para amar a quem
nunca se amou
fervorosamente.

O tempo é o que basta
para curar quem
o amor nunca feriu
impiedosamente.

A mão é o que basta
para manter a salvo
a alma de quem
nunca se apavorou.

O ombro é o que basta
para dar consolo
a quem nunca
esteve tão triste.

A natureza é o que basta
para  surpreender quem
sempre viveu longe do mundo
– o verdadeiro mundo.

– por J. C. Gonçalves

1.12.13

Estivemos Perdidos

I

Escreva versos parnasianos sobre minha pele,
porque hoje não quero algo significativo
e sim, detalhista e racional.
Serei impassível, mas objetivo.

Ninguém nunca foi tão memorável quanto você,
talvez por ter sido alguém sincero.
Tão sincero que até me recordo de seus poemas:
frases avulsas em papéis velhos.

Sinto que nunca nos conhecemos,
quando de repente pusemo-nos
a buscar a perfeição das palavras.

Sinto que estivemos perdidos
dentro de um mundo
que não nos valoriza.

II

Escreva versos simbolistas sobre minha pele,
porque hoje não quero algo realista
e sim, devaneador e misterioso.
Serei sugestivo, mas subjetivo.

Ninguém nunca foi tão sentimental quanto você,
talvez por ter sido alguém louco.
Tão louco que até admiro sua falta de lucidez,
declamada através de versos cantados.

Sinto que nunca nos conhecemos,
quando de repente pusemo-nos
a repudiar nossa própria realidade.

Sinto que estivemos perdidos
dentro de um mundo
que não nos satisfaz.

III

Não há perfeição nesses versos
assim como não há cores nessa vida.
E sinto que estivemos perdidos
quando na verdade estávamos livres,
pois somos mais livres
quando estamos sozinhos.

– por J. C. Gonçalves