Deitados sobre o chão fresco
e esperando que a locomotiva
atravessasse nossa visão,
percebemos o que os mais velhos
prezavam.
Pedras cinza nos mostram
como a paisagem mudou.
E tarde demais as pessoas despertam,
e cedo demais as pessoas discutem.
Foi o temor e o desdém
que provocaram uma amargura
capaz de nos afastar de nossos amigos.
Foi a insanidade dos visitantes
que limitou a paz daqueles rostos.
Foi uma humanidade parva
que privou a felicidade do mundo vivaz.
Às nove horas, apagam-se as luzes.
Volto para casa dentro de uma neblina,
sendo seguido por gritos de solidão
e, muitas vezes, de pânico.
Às dez horas, cobiço somente o sono,
o amanhã, a velhice mas nunca a morte!
pois mesmo estando cercado por loucura,
eu ainda espero uma solução.
Às onze horas, meus delírios me levam
para longe.
Executo agora a primeira fuga desta
prisão,
destruindo este muro abandonado.
Às doze horas, deleito-me de um prazer
profundo
e tento me lembrar do que eu fazia
naquela madrugada.
Contudo, parece ser uma memória
inalcançável.
Dentro desse abismo:
aversões não desaparecem;
lembranças não retornam;
e amores não sobrevivem.
Somos os jovens que jogam
suas mágoas no oceano.
O que talvez fosse a nudez do mundo,
agora é escondida
pelas mentes mais cruéis e mais
arrogantes.
Traga aos meus pés o melhor do
infinito:
promessas esquecidas e sentimentos
impróprios.
Da janela observei os tijolos caírem
como folhas de um outono aprazível.
Arrepiou a pele e calou os gritos,
que agora eram só de exaltação.
E a fuga não se fez mais necessária.
– por J.
C. Gonçalves
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