17.7.14

Costumávamos Existir

I

Toda palavra tem um significado
capaz de trazer à tona
o que é sentido e escondido,

mas todas as palavras se tornaram inúteis
e nós nos tornamos frágeis e amargos,
assim como este mundo.

II

Todo sentimento tem de ser revelado
à medida que o tempo se extingue
e o coração para de palpitar,

mas todos os sentimentos foram oprimidos
e nós fomos acorrentados ao mundo
que é criado e destruído por nós.

III

Nenhuma lembrança durará até amanhã,
porque nós mudamos muito ontem
e agora nem lembramos nossos nomes,

mas nenhuma lembrança dura,
pois aprendemos a nos esquecer
de tudo e de todos.

IV

Nenhum nome será gritado
quando algo acontecer conosco,
porque nunca nos conhecemos,

mas nenhum nome é gritado
como o nome daquele que nos permite gritar
(e alguns ainda acreditam nos homens).

V

Toda vida se esvai
quando a vemos como algo proibido,
algo acostumado a acabar.

Nenhuma existência durará...
sei disso porque eu costumava existir
e, como humano, você também.

– por J. C. Gonçalves

3 comentários:

  1. Céus, que lindo, Jonas! ''Nenhum nome será gritado
    quando algo acontecer conosco,
    porque nunca nos conhecemos,'' Que forte! Gosto disso, demais, esse tipo de poesia me encanta

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  2. "Nenhuma lembrança durará até amanhã"

    Pior que dura...no dia seguinte, no mês seguinte, no ano seguinte.... na vida seguinte...

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  3. ''Toda vida se esvai
    quando a vemos como algo proibido,
    algo acostumado a acabar.''

    É assim mesmo.

    Belo poema, revelador, reflexivo.

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